A população do município de Humaitá (AM) ainda vive o clima de apreensão deixa pela operação da Polícia Federal contra o garimpo ilegal, no rio Madeira.

As marcas deixadas continuam visíveis na cidade. O cenário é de tristeza com ruas mais silenciosas, embarcações destruídas, fumaça ainda perceptível no ar e moradores em estado de alerta, após a ação de ontem (15).
A operação, conduzida pela Polícia Federal com apoio da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal, resultou na destruição de 71 dragas utilizadas na mineração ilegal no Rio Madeira.
Durante a ação, houve relatos de uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que gerou apreensão entre moradores, especialmente em áreas próximas a escolas e residências.
“Foi como uma cena de guerra. A gente não conseguiu dormir. Muita fumaça, tiros e medo de morrer”, disse um morador que prefere não se identificar.
A cidade permanece em atenção. Apesar da aparente calmaria nesta terça-feira (16), moradores relatam grande circulação de veículos e agentes, o leva a crê que uma nova fase da operação possa ocorrer.
“A cidade está parada, mas tem muito carro estranho circulando. Acho que vai acontecer outra ação”, declarou um morador que reside próximo a margem do rio Madeira.
Moradores da cidade relatam que além dos danos materiais, o impacto emocional e social atingiu várias famílias, principalmente, aquelas que perderam embarcações e outros bens, que garantiam o sustento família. “Trabalha anos para conseguir o pão de cada dia, e em minutos tudo é destruído. E agora?”, questiona uma mãe.
DPE-AM volta a pedir fim do uso de explosivos
Após a operação federal contra o garimpo ilegal no rio Madeira, iniciada nesta segunda-feira (15), a Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) voltou a solicitar a suspensão do uso de explosivos para destruir as balsas usadas na atividade. Na semana passada, o ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), havia negado um pedido liminar com o mesmo teor.
No pedido protocolado no fim da tarde desta segunda-feira (15), a DPE-AM sustenta que a nova operação federal confirma o alerta feito na semana passada sobre o risco de novas ações com uso de explosivos. O órgão destaca que a operação deve se estender por quatro dias e classifica a utilização de artefatos como “desproporcional” e “irrazoável”.
“Como já exposto, o emprego de violência extrema pela União contra povos tradicionais e ribeirinhos no Amazonas, através de artefatos explosivos (bombas), tem gerado intensos problemas sociais que conduzem para uma grave crise humanitária na região”, destaca o pedido.
A Defensoria Pública fala em ao menos nove impactos causados pelo uso do que chama de violência contra a população local. Dentre eles, efeitos colaterais contra crianças e idosos, danos ambientais adicionais, risco contra a vida, ineficácia ao longo prazo, impacto social e humanitário sobre os mais pobres, aumento dos confrontos e violência, ausência de alternativas, violação do devido processo legal e aumento da miséria e exclusão social.
