Pesquisas investiga efeito terapêutico do jambu em tratamentos odontológicos

Ainda não havia registro de jambu aliado à odontologia

O jambu, consumido tradicionalmente nos pratos típicos da região amazônica, em especial, no estado do Pará, que também encontra-se presente em forma de geleia, cachaça, conserva, pimenta e licor, está sendo estudado para aplicação que vão além da culinária, como na área da saúde bucal.

A pesquisa de pós-graduação em Odontologia da estudante Brennda Lucy Freitas de Paula, na Universidade Federal do Pará (UFPA), buscou uma abordagem natural para um problema comum: a sensibilidade após o clareamento dental.

Orientada pela professora Cecy Martins Silva, a acadêmica desenvolveu a tese ‘Desenvolvimento e Avaliação de um Gel Experimental de Extrato de Acmella oleracea (Jambu) sobre o Esmalte e Controle da Sensibilidade Dentária Pós-Clareamento: Um Estudo Laboratorial e Clínico‘, com o objetivo de aliviar esse desconforto e ampliar as opções terapêuticas na odontologia.

Ainda não havia registro de jambu aliado à odontologia. Quem já comeu jambu se lembra bem da sensação de tremor na boca. A dormência ao mastigar a folha é conhecida por suas propriedades sensoriais específicas, que provocam um estímulo tátil diferente dos estímulos gustativos de outras ervas ou compostos naturais. Foi justamente esse efeito curioso que despertou o interesse da pesquisadora Brennda de Paula em sua tese.

“Como ele dá essa sensação anestésica, sentimos um tremor nos lábios, uma sensação de dormência na boca. As pesquisas mostram que essa sensação, na verdade, é derivada do bloqueio dos canais de sensibilidade de dor. Trata-se de um efeito neural. E esses mesmos canais estão presentes nas células do dente — no nervo dental ou na polpa dentária. Assim surgiu a ideia de utilizar esse ativo, pois, até então, não havia nada na literatura relacionando o jambu à odontologia”, explica Brennda.

Com uma proposta inédita, a construção da metodologia foi o maior desafio enfrentado pela pesquisadora. Como não havia nenhum estudo anterior que servisse de base, cada etapa precisou ser criada do zero. “O estudo foi realizado em parceria com o Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA), coordenado pelo professor Hervé Rogez.

Cada etapa foi pioneira, pois não havia nada padronizado. Não conseguimos encontrar nenhuma pesquisa que tivesse uma ‘receitinha’ para nos guiar. O mais desafiador foram as etapas que envolviam outras áreas de conhecimento. Precisei sair muito da minha zona de conforto para entender de química, de engenharia, de biotecnologia e tudo mais”.

Antes de chegar aos testes em humanos, o estudo passou por diversas fases. Inicialmente, os experimentos foram feitos utilizando células, depois, com dentes bovinos, até chegar ao ensaio clínico. Nessa etapa, foram utilizados dois tipos de gel: um placebo e outro com o extrato de jambu.

Os voluntários não sabiam a que grupo pertenciam, uma estratégia adotada para garantir a imparcialidade dos resultados. O extrato utilizado era purificado, ou seja, límpido, incolor, sem odor e com alta concentração do ativo. Como ele era aplicado apenas em consultório e não apresentava características perceptíveis, os participantes não tinham como identificar qual gel estavam usando.

Apesar de o jambu já ter sido estudado para outras aplicações, na odontologia ele surge como uma possibilidade inovadora. Hoje, os tratamentos para sensibilidade pós-clareamento disponíveis não garantem 100% de alívio da dor.

“Nosso objetivo é ir além do que já existe, permitir que as pessoas possam fazer um clareamento de forma mais confortável, utilizando um gel à base de jambu. Estamos falando de fitoterápicos, que são fármacos derivados de plantas e que têm um potencial imenso”, defende a pesquisadora.

O uso de plantas medicinais é uma prática ancestral que vem ganhando espaço nas pesquisas científicas. Mesmo com o avanço dos medicamentos sintéticos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 80% da população ainda recorre aos medicamentos naturais, especialmente em países em desenvolvimento.

jornaldamazonia.com / Com informações publicado no Jornal Beira do Rio (UFPA, edição 17)

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